Tradicionalmente as listagens de um sistema de kung fu eram primeiro memorizadas e seguidas antes que as pessoas tentassem compreendê-las, porque isso requer experiência prática reiterada para desenvolver o virtuosismo necessário para a verdadeira compreensão.
Seria um equívoco tratar um sistema de kung fu como um sistema de teoria filosófica que visa obter verdades descritivas sobre a realidade ou para justificar princípios morais universais.
Enquanto uma teoria tipicamente começa estabelecendo as premissas e, através do raciocínio, chega gradualmente à conclusão, um sistema de kung fu começa a partir da condição existente do praticante e, através da orientação e da prática passo-a-passo, alcança gradualmente níveis mais elevados de excelência artística.
Os diferentes constituintes dentro de um discurso teórico que estão ligados entre si através de suas conexões lógicas, gera uma ordem que tende a levar a uma perspectiva linear. Mas os diferentes componentes de um sistema de kung fu estão ligados entre si através de suas implicações práticas, o que é muito mais dinâmico. Eles não são formados no cérebro e manifestados no âmbito das palavras, mas sim formados por dispositivos corporais e capacidades corpóreas de uma pessoa e manifestados no âmbito da vida real.
O sistema de kung fu têm de ser avaliado de forma diferente do discurso teórico.
O poder convincente do seu acesso não reside, em última análise, na prova lógica das conclusões, mas nos resultados eficazes que geram. Consequentemente, as declarações contraditórias em um sistema de kung fu podem ser válidas dentro de seus respectivos domínios (veja o exemplo do Patriarca Ip Man que dava respostas diferentes, muitas vezes opostas, para a mesma pergunta feita por diferentes discípulos).
Embora um ensino eficaz possa parecer uma regra universal, ele pode ainda estar sujeito ao discernimento individual. Uma vez que esta "eficácia" é aberta a visões alternativas de excelência, os sistemas de kung fu são inclusivos.
Ao contrário de afirmações sobre a verdade, eles não têm a afirmar-se como a única forma correta de arte. Isso é diferente de não ter certo ou errado ou bom e mau, no entanto, ele é como qualquer forma de arte, sujeitos ao julgamento das experiências cultivadas das pessoas.
Um sistema de kung fu não visa estabelecer regras para restringir as pessoas, mas sim dar orientações para que as pessoas possam viver vidas artísticas. Elas são como protocolos, que admitem flexibilidade.
Normas são reconhecidas pelo cérebro como princípios, mas habilidades kung fu devem ser incorporadas como características ou hábitos de uma pessoa. Enquanto o primeiro é ensinado usando conceitos abstratos, este último tem que se comprometer na imitação encarnada de mestres ou exemplos (daí a relevância dos relatos de Vida Kung Fu dos mestres do passado e do presente).